A difícil hora do adeus
Por Pr. Teobaldo Pedro
"Há tempo para todo propósito...tempo de dizer adeus" (Eclesiastes 3)
Convivendo e ouvindo pessoas, em muitos anos de aconselhamento terapêutico, aprendi que dentre as ações humanas interativas a hora de dizer adeus a algo ou alguém, que amamos ou pensamos amar, é uma das mais angustiantes e sofridas. É como se parte de nós morresse ali, a depender do nível e intensidade desse adeus. É ainda como se parte de nos se desfizesse, o chão se abrisse e a vida se esvaísse ante nossos olhos incrédulos pela perda ou separação, sem que nada que façamos possa mudar ou impedir aquilo. E isso costuma trazer desespero, angústia e dor. A dor de ver ir embora, partir, se separar de nós, algo ou alguém que tanto amamos, e nos casos específicos de um relacionamento, para os braços de outra pessoa. Isso dilacera o coração, violenta a alma, ultraja a dignidade e amor próprio, ainda que por um breve instante.
Contudo, a vida nos ensina, pela experiência e observação, que nenhum "fim" é realmente um fim e que nem todo "começo" é de fato um começo. Às vezes, um fim é um recomeço e um começo pode identificar “um fim”, mas um fim que prossegue, em outro nível de compreensão. Um "fim" que avança! O que dá no mesmo!
Isso porque tanto podemos retomar e recomeçar algo de novo, com as mesmas pessoas e circunstâncias, só que sob um prisma mais maduro, adulto e consciente dos riscos presentes na situação, como podemos "dar continuidade" ao que começou dentro de nós mesmos, porém vislumbrando novos horizontes, pessoas ou situações. A escolha de recomeçarmos algo ou estagnarmos na solitária ilusão da solidão e angústia da suposta perda, será somente nossa e de mais ninguém. Chamo de suposta perda aquilo que pensamos ter tido como sendo nosso um dia, mas que na verdade não o era. Nem da nossa vida somos donos!
Porém, por acreditarmos que este algo ou alguém nos pertencia, nos prendemos a isso, o objeto de nosso desejo e agora fonte de nossa dor e sofrimento, como se a nossa vida estivesse a isso de tal modo atrelada que sem ele não nos fosse possível sobreviver, continuar, sorrir, sonhar, prosseguir a vida existindo e obtendo novas conquistas pessoais e crescendo como ser.
Precisamos entender e aceitar que a vida não se encerra num ciclo. Antes ela é feita da soma de vários ciclos, o que é bem diferente do oposto a isso. E cada um deles em nossa existência terrena, que é única, porém jamais solitária, é fruto de uma constante troca. Um tipo de “interatividade psicoemocional”, ou seja, damos muito de nós mesmos, mas também carregamos muito do outro com o qual interagimos e assim, nessa constante troca “bio-psico-emocional”, prosseguimos com aquilo a que chamamos de vida e vamos crescendo um pouco a cada dia. Ainda que tropeçando aqui, errando e caindo acolá, a vida é feita da soma de todos nossos erros e acertos, escolhas, e recusas, e não só de um desses aspectos isolado.
Uma relação, por mais intensa, prazerosa e aparentemente perfeita que seja, ao se encerrar a vida não acaba ali. Não mesmo! E se você pensa assim, saia do surto! O que encerra ali é apenas um ciclo. Um instante de aprendizado, crescimento e amadurecimento pessoal, tanto na percepção de si mesmo - o “como somos” e o “quanto somos” - como no aprendizado do outro com suas possibilidades, potencialidades e limites.
Algo bom que restará disso tudo é que se você parar para refletir, sem desespero ou obsessão, tirará de cada situação já vivida lições preciosas para si e as poderá repassar a outros. Elas te acompanharão por toda a vida e farão de você uma pessoa mais rica, autoconsciente e feliz.
Assim, “dizer adeus”, seja ao que for, pode significar, mais que dor, aprendizado; mais que tristeza, a alegria por ter vivido aquilo tudo; mais que mágoas, gratidão por ter sido possível interagir, existir enfim; mais que perda, ganhos. A escolha será sempre e inteiramente sua e somente sua. De mais ninguém, lembre disso!.
Escolha aprender! Ganhar, mas às vezes perder, pois há perdas que nos são necessárias para, irmos em frente e assim conquistarmos outros níveis de compreensão do ser, tanto pessoal quanto interpessoal.
Tenha uma semana abençoada, na doce presença Daquele que precisou “perder” a própria vida, para depois retomá-la a fim de que nós pudéssemos também ter vida, e vida em abundância. Um beijo santo no teu coração, neste lindo dia que Ele mesmo criou para nós. Até para os que nada fizeram para merecê-lo. Pense nisso!
Roni Figueiredo - Coluna Social