Sem apoio, tradicional circuito do Carnaval de Salvador corre risco de desaparecer

Circuito Osmar (no Campo Grande) vive abandono enquanto autoridades discutem criar novo percurso para folia

Por EmPauta.net 26/01/2023 - 19:07 hs
Foto: Arquivo

Osmar (o Macêdo) morreu em 30 de junho de 1997, por insuficiência respiratória e falência múltipla dos órgãos, após 15 dias de tratamento intensivo no hospital Espanhol. Osmar (o circuito) há 20 anos respira por aparelhos. Enquanto as autoridades discutem a criação de um novo circuito carnavalesco, a tradicional "Avenida", por onde já desfilaram grandes estrelas da música baiana, corre o risco de morrer.

Um levantamento feito pelo Jornal da Metropole aponta que, dos 22 blocos pagos no Carnaval deste ano, apenas quatro vão desfilar no circuito do Campo Grande. São os tradicionais blocos afros Olodum e Filhos de Gandhy, as Muquiranas e a atração de samba Amor & Paixão.

Hoje, a maioria esmagadora das atrações é paga pelo poder público, o que ainda não é suficiente para ocupar as ruas do Osmar. A prefeitura, por exemplo, vai bancar neste ano apenas três “pipocas”.  

Aparente contradição

A verdade é que o setor privado mostra pouco interesse em investir no circuito que é considerado por muitos como o “carnaval raiz”, lembra o cantor Ricardo Chaves, famoso pelo hit “É o bicho”. “A avenida teve uma importância muito grande para a história do Carnaval e jamais pode ser abandonada. Tem que ser repensado. Tem muita gente que não conhece o circuito porque foi um pouco abandonado”, diz ele.

Por mais paradoxal que pareça, o presidente do Comcar, Quinho Nery, relaciona a crônica da anunciada morte do circuito Osmar ao crescimento da folia. Se antes a festa momesca tinha 800 mil foliões em média por dia, hoje são quase 2 milhões. “Isso provocou a migração para a Barra, que tem mais espaço, é mais aberta. A avenida tem um circuito circular, as pessoas ficam sempre presas ali. A Barra espalha melhor o público e dá um equilíbrio melhor à festa”, avaliou.

Empurra-empurra

A solução para resolver o abandono da tradicional avenida da festa momesca perpassa por um diálogo. Mas, poder público e iniciativa privada dançam no ritmo do “empurra-empurra aqui”, de Ivete Sangalo. Ao mesmo tempo em que o presidente do Comcar diz que cabe ao setor público buscar o equilíbrio entre os circuitos, o presidente da Saltur , Isaac  Edington, cobra que os blocos retornem para o Osmar.  

Novos produtos

“A gente contrata artistas, entidades, para continuarem desfilando. Se a gente não fizesse isso, provavelmente ele desapareceria. Ajudaria se os blocos que desceram organicamente para o circuito Barra-Ondina lançassem novos produtos”, afirmou, no ano passado.

Enquanto isso, há um impasse: vão deixar Osmar morrer de novo?

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Por: Mariana Bamberg/Rodrigo Daniel Silva - Metro1